quarta-feira, 30 de março de 2011

Aumenta o número de padres no mundo

Entre 1999 e 2009, o número de padres em todo o mundo aumentou 1,4%. O dado está contido na nova edição do Anuário Estatístico da Igreja Católica, divulgado na última sexta-feira, 11. Os dados revelam que, atualmente, no mundo, existem 410.593 padres, sendo 275.542 pertencentes ao clero diocesano e os demais ao clero religioso.

Pela primeira vez desde 1999, em todo o mundo menos na Europa, o número de ordenações supera o de falecimentos e abandonos.

O estudo aponta também que o número de padres e de católicos aumenta na África, Ásia e América Latina, caindo na Europa e América do Norte. A tendência é invertida no que se refere ao clero: a maior parte dos sacerdotes é europeia (46,5%), seguida por americanos (29,9%), asiáticos (13,5%), africanos (8,9%) e da Oceania (1,2%).

O Anuário Estatístico da Igreja reúne dados de todos os segmentos da Igreja Católica dedicados ao apostolado e à evangelização em todos os países do mundo.

Já o "Anuário Pontifício", que recolhe todas as dioceses do mundo, privilegia nomes e biografias. Segundo a edição de 2009 - com dados da Igreja relativos a 2007 - o número de católicos no mundo é de 1,147 bilhão.

Rádio Vaticano

O preço de não escutar a natureza

O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais.

Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.

A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrário, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.

Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que ai viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.

Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam.

Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d’água. Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.

No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.

Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.

Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.

Leonardo Boff

terça-feira, 29 de março de 2011

Teólogos europeus exigem fim do celibato e ordenação de mulheres na Igreja Católica

Munique - 144 professores de Teologia - equivalente a um terço dos teólogos católicos de fala alemã residentes na Alemanha, Suíça e Áustria - subscreveram um manifesto em que exige reformas na Igreja católica. As propostas incluem o fim do celibato, a ordenação de mulheres e a participação popular na escolha de bispos.
A reportagem foi publicada no jornal Süddeutsche Zeitung, destacando o fato de que esse número seria maior se muitos não temessem represálias da instituição. O fato lembra a Declaração de Colônia, assinada por 220 teologos em 1989, no papado de João Paulo II.
Judith Könemann, professora de Teologia em Münster, destacou que o amplo eco a partir da declarações ao jornal bávaro demonstra que "tocaram um nervo". Ela é uma das oito pessoas que redigiram o manifesto, ao qual se somaram professores eméritos da envergadura intelectual de Peter Hünermann e Dietmar Mieth, velhos batalhadores por reformas como Heinrich Missalla e Friedhelm Hengsbach, progressistas como Otto Hermann Pesch e Hille Haker, e até mesmo conservadores como Eberhard Schockenhoff.
Tendo como pano de a crise até então incontornável dos escândalos de pedofilia em dioceses e paróquias da Igreja católica ao redor do mundo, o texto elogia o chamamento dos bispos a um diálogo aberto. Pragmático, os assinantes de dizem "na responsabilidade de dar uma contribuição a um novo começo real", assumindo a tese central de que a Igreja Católica só "pode anunciar o libertador e amante Deus Jesus Cristo", quando ela mesma "for um lugar e um testemunho crível da mensagem de libertação do Evangelho".
Insiste que ela deve reconhecer e fomentar "a liberdade do homem como criatura de Deus", respeitar a consciência livre, defender o direito e a justiça e criticar as manifestações que "depreciam a dignidade humana". O que trazem são "desafios", que incluem "maiores estruturas sinodais em todos os níveis da Igreja" e a participação dos fiéis na escolha de seus bispos e párocos.
O manifesto retoma o afirmação já feita de que a Igreja católica necessita "também de sacerdotes casados e mulheres no ofício eclesiástico", denuncia que a falta de sacerdotes força a exigência de paróquias cada vez maiores e lamenta que os sacerdotes sofram desgastes diante destas circunstâncias. 
Enfatiza ainda que "a defesa legal e a cultura do direito" na Igreja devem "melhorar urgentemente" e argumenta que a elevada valorização do matrimônio e do celibato supõe "excluir pessoas que vivem o amor, a fidelidade e a preocupação mútua" em uma relação estável de casal do mesmo sexo ou como divorciados casados em segundas núpcias. 
Desconstrói a suposta autoridade de Roma e critica o "rigorismo" da Igreja Católica, insistindo que não se pode pregar a reconciliação com Deus sem criar as condições para uma reconciliação com aqueles "diante dos quais é culpada: por violência, por negar o direito, por converter a mensagem bíblica de liberdade em uma moral rigorosa sem misericórdia".
E voltou aos escândalos de pedofilia, afirmando que "à tempestade do ano passado não pode seguir tranquilidade nenhuma", e afirma considerar que "nas circunstâncias atuais só pode ser a tranquilidade da sepultura". E conclui denunciando a prisão do pavor institucional diante do rebanho, exigindo diálogo, observando que "o medo não é bom conselheiro", recordando que os cristãos foram "chamados pelo Evangelho a olhar com valor para o futuro e como o chamamento de Jesus a Pedro para caminhar sobre as águas: ‘por que estais com medo? Vossa fé é tão pequena?'".

Fonte: Site do CEBI

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Pentecostalismo Como Religião Neoliberal

Considerando a contribuição dada pelo movimento pentecostalista ao estado neoliberal, podemos afirmar que o pentecostalismo e suas ramificações formam o tipo ideal de religião, dos estados contemporâneos que adotaram esta doutrina econômica como matiz ideológica padrão em suas decisões políticas.
A práxis pentecostalista (incluindo os pentecostais católicos), desenvolveu sua concepção de justiça social em direção aos conceitos vagos de caridade e fraternidade, esgotando-se na prática do assistencialismo, favorecendo, dessa forma, a consolidação do Estado neoliberal e seus princípios, sobretudo, o da propriedade privada.
Pode ser que seja raro ver um Católico pentecostal participando de um movimento ou ONG de reivindicação de direitos sociais, mas o mesmo podemos dizer, em relação aqueles que se auto denominam católicos das CEBs. Estes últimos não estão aprisionados pelos “dons do espírito” a esfera espiritual como os primeiros, entretanto, são reféns do medo e tornaram-se dessa forma “cristãos amarelos” que se fecham e esgotam o seu senso de justiça nas práticas litúrgicas e pastorais não sociais, aliás, a terminologia “pastoral social”, já é o suficiente para provocar “alergia e ânsia de vômito” na maioria dos agentes de pastoral da Igreja Católica.
Em relação ao pentecostalismo protestante a situação é mais agravante ainda. Você já ouviu falar de um cidadão chamado Karl Marx(1818-1883)? A meu ver nem um pensador exerceu tanta influência no pensamento social, econômico e político do séc. XX, quanto Karl Marx. Foi ele que disse que a religião é o ópio do povo e com esta afirmação conseguiu provocar um grande alvoroço no ideológico religioso-intelectual dos anos que lhe sucederam. Nunca encontrei uma frase que combinasse tanto com o pentecostalismo protestante quanto esta. Através de duas características predominantes em sua práxis, eles dominam com uma perfeição impressionante todas as pessoas que eventualmente já se encontrem em estado de fragilidade. Primeiro eu diria que eles usam e abusam despudoradamente da metodologia do impacto e da dependência psico-emocional, o que, até o momento, os torna imbatíveis em arrebanhar novos adeptos e mantê-los sob seu julgo. O grande sucesso do movimento pentecostal evangélico é também devido ao uso intenso do poder financeiro das igrejas-empresas, que investem pesado na construção da imagem através da aquisição de emissoras de rádio, televisão e outros meios de comunicação, com o intuito exclusivo de dominar o imaginário das pessoas.
Tudo o que o Estado neoliberal e opressor precisa para se consolidar é de grupos fortes e numerosos que dominem o espírito das pessoas e as torne inaptas a resistência a opressão. Considerando que o meio e a herança exercem uma influência quase irresistível no ser humano, afirmamos sem medo de errar, que a sociedade do futuro, cada vez mais pentecostal se tornará presa fácil aos interesses capitalistas e opressores do Estado neoliberal.
Concluímos que o estado de opressão que gera dor nos excluídos e miseráveis, continuará co-existindo com grupos cristãos que se desumanizaram porque perderam sua capacidade de se indignar, e por demais, se afastaram do Deus que tem como principio em sua práxis histórica, a libertação do oprimido do julgo do opressor.
Antonio Pereira da Silva

quarta-feira, 23 de março de 2011

Bíblia e Interpretação Ideológica

Ao ler a Bíblia, devemos concebê-la como interpretação dos fatos vivenciados por pessoas, que guardavam dentro de si uma fé forte no Deus libertador e que traziam consigo, além do ideário pessoal, uma ideologia social que lhes norteavam os pensamentos. Dessa forma, interpretar a Bíblia é “interpretar uma interpretação”, ou seja, é fazer uma leitura ideológica dos personagens e/ou escritores sagrados.
Então, a Bíblia é interpretação ideológica, enquanto registro das interpretações, que seus personagens faziam dos fatos da vida a partir do conjunto de valores éticos, morais e interesses individuais e coletivos, que norteavam seus pensamentos. Dessa forma, podemos encontrar duas interpretações que relatam uma evolução do pensamento teológico em duas épocas diferentes, ou até duas interpretações contraditórias, sobre um mesmo acontecimento, p. ex. se encontrássemos o relato daqueles fatos ocorridos nas viagens de Paulo, feito por um historiador, perceberíamos uma grande diferença em relação às narrativas de Paulo, isto porque, o historiador não estaria movido pela mesma intenção teológico-pastoral do apóstolo.
Dessa forma é imprescindível, para uma compreensão maior do texto bíblico, um contato com a ideologia pessoal e social – explorando aqui o termo ideologia a partir da concepção dos pensadores da Antiguidade Clássica e da Idade Média -,  que gerou as concepções posteriormente escritas e que hoje conhecemos como Bíblia.   
  Considerando o exposto acima, entendo o método histórico-crítico, como “o método por excelência para interpretação bíblica” nos dias atuais, dado o avanço das ciências humanas, e até da Química. É bastante desejável, o uso prudente da Exegese Científica, que nos permite um estudo minucioso da realidade vivida pelo escritor e seu contexto sócio-econômico-cultural, tendo em vista uma releitura ideológica com menor margem de erro em relação aqueles que usam outros métodos de interpretação bíblica.
E por fim, refletindo o que foi dito anteriormente, como pode a Bíblia ser luz para nossa caminhada? Ela é luz, não porque nos mostra o que fazer em determinadas situações da vida, mas pelo fato de nos relatar posições e atitudes, de personagens que nos servem como exemplo de como viver a fé numa realidade hostil ao projeto de Deus.
Antonio Pereira da Silva